sexta-feira, 3 de junho de 2011

Palavras Esquecidas

Por Thiago de Assis Decido escrever essa reportagem depois de constatar que a Biblioteca de Valinhos não tem um site de internet. Lembrei dos tempos em que pesquisava grandes enciclopédias impressas. Da Biblioteca mudando de endereço ao menos duas vezes. Confesso que a curiosidade era saber como anda este tipo de espaço numa cidade como Valinhos. Uma cidade cercada de condomínios. Que sempre foi destaque pelo alto padrão de vida oferecido, por sua renda per capita, por sua população com elevado poder aquisitivo. O modelo de ascensão conhecido e propagado, sempre estimulou características da mentalidade privatista, e uma visão comercial quanto a engajamento e consumo. A cidade viu os espaços públicos esvaziarem nas últimas décadas. A proliferação de espaços privados trouxe uma certa aversão ao público. É verdade que essa realidade ou tendência é geral. A expansão das novas tecnologias, da internet e da web, esvaziou a biblioteca municipal. A bibliotecária Luciana conta que uma visitação média de 50 ou 60 pessoas, está bem aquém do público recebido diariamente há uma década atrás. Este também é processo lógico e irreversível. Não estamos sendo saudosistas ou utópicos, fazemos apenas uma constatação. Evidentemente, é triste perceber que a biblioteca pública converte-se agora em depósito de livros usados. Mesmo com toda massificação dos bens culturais, do aumento do acesso à cultura através da web, o livro impresso continua sendo sagrado. Como se fosse um sacrilégio eliminá-los ou colocá-los no lixo. Por isso, as pessoas levam até a biblioteca. Descobrem então, de acordo com Luciana, que não há sequer mais espaços para armazená-los, e que os bibliotecários de Valinhos não os aceitam ao menos por enquanto. A falta de espaço físico tornou-se outro entrave. Mesmo com todas as mudanças estruturais aqui citadas, ou com a popularização do acesso e do consumo de cultura, também auxiliados pela web e pelo aumento da renda, constatamos uma evidente falta de investimentos, divulgação, infra-estrutura, e incentivos à Biblioteca Municipal da cidade de Valinhos. Não queremos um retorno aos antigos tempos, mas uma biblioteca pública não deve sobreviver apenas da disponibilização de livros para pesquisas escolares. Ela pode e deve promover uma série de atividades culturais abrangentes e insubstituíveis. É justamente neste ponto que percebemos a falta de investimentos municipais, incentivos e criatividade. A biblioteca possui uma grande hemeroteca, que poderia sim ser digitalizada, constituindo um importante acervo histórico da cidade e do estado de São Paulo. Ao invés disso, os jornais apodrecem. A videoteca é composta por poucos títulos doados, e obviamente disponibiliza um tipo de recurso arcaico, não mais utilizado. Os Dvds disponíveis para empréstimos são incompatíveis com o tipo de cultura que uma biblioteca precisa oferecer. Ou seja, é necessário também que essa instituição ofereça exatamente aquilo que não é amplamente propagado pela cultura de massa. A Biblioteca se encontra basicamente no mesmo estado que quando a visitei pela última vez ainda na adolescência, cuja única diferença são os 4 computadores disponibilizados pela Internet Pública da cidade. As salas de livros ainda trazem os nomes de grandes pensadores e escritores brasileiros, tais como Monteiro Lobato, Milton Santos, etc. Dessas a sala infantil, que por sinal é a mais freqüentada, foi a trouxe maiores alterações. Graças à vontade e iniciativa própria dos bibliotecários. Surpreendente a falta de acessibilidade no local. A ausência completa de rampas de acesso, corrimões, livros ou recursos audiovisuais para deficientes. A entrada principal em si, tem seu acesso através de degraus. Literatura em braile ou áudiobooks parecem coisas distantes e fora de cogitação numa cidade rica e próspera como Valinhos. Cidade que teria condições de transformar a biblioteca pública em espaço amplo para eventos culturais que integram a população. Pois eventos como a Paixão de Cristo, que recebem investimentos e incentivos maiores, são um sucesso no município. Impressionante foi saber que Valinhos integra a chamada “Viagem Literária”. Projeto desenvolvido pelo Governo do Estado de São Paulo, que leva renomados intelectuais, pensadores e escritores do cenário nacional a darem palestras em bibliotecas municipais, com o objetivo de incentivar a cultura e o hábito de leitura. Os eventos são totalmente desconhecidos pela população de Valinhos. Faltam investimentos e vontade política para a divulgação das palestras. Grandes escritores já chegaram a se apresentar para apenas 9 pessoas, conta Luciana. A Viagem Literária de 2011 tem início em Valinhos marcado para o dia 08/06. Milton Hatoum, que entre outros obras importantes escreveu “Relato de um certo Oriente”, é o primeiro a comparecer à cidade. E esperar para ver se nesse ano haverá mais repercussão e divulgação. Luciana conta que apenas Ferreira Gullar teve um público de grande impacto. Com tudo isso, concluímos que a Biblioteca Municipal merecia sim maior atenção por parte do poder público.

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