quinta-feira, 16 de junho de 2011

Documentário finalizado em Paulínia aborda temática da Hidrelétrica de Belo Monte

Por Bruna Reis

“À margem do Xingu – vozes não consideradas” mostra conseqüências socioambientais do projeto desenvolvimentista.
Reis


O documentário “À Margem do Xingu – Vozes Não Consideradas” levanta o debate sobre a questão do represamento dos rios amazônicos para produção de hidroeletricidade e suas conseqüências socioambientais. O projeto iniciado em agosto de 2009 foi produzido entre dezembro de 2009 e janeiro de 2010, momento em que se tramitava a LP – Licencia Prévia –, que permitiria o leilão da usina de Belo Monte. O processo de produção foi realizado como uma viagem exploratória onde se descobria pouco a pouco os protagonistas desta polêmica obra e suas conseqüências diretas na vida destas pessoas e seu entorno.
O lançamento será na Mostra Competitiva do IV Festival Paulínia de Cinema, marcando o inicio da divulgação/difusão do filme. Inscrito em cerca de 100 festivais brasileiros e internacionais o documentário será exibido também em comunidades ribeirinhas da região amazônica, salas de cineclube, universidades, escolas, ongs e eventos sobre o meio ambiente, sempre propondo um espaço para discussão e reflexão do tema que atingi todos os seres do planeta. A meta do projeto institucional da produção é atingir 20.000 mil espectadores no próximo ano e meio.


http://vimeo.com/24443990

Formas de mudar o mundo: das redes as ruas

Por Bruna Reis

Na era da web 2.0 as revoluções culturais, sociais e políticas quebram a barreira institucional num diálogo intergeracional direto entre sociedade e governo.


Movimentos sociais organizados são uma constante em todos os períodos históricos e partes do mundo, temas como liberdade, saúde pública, igualdade, fraternidade, bem comum, direitos humanos, individuais, universais, expressão, simbolismo e transformação.

As formas de articulação são alteradas de geração em geração buscando ser vanguardista quanto aos temas e o modus operandi dos atos, passeatas, manifestos e intervenções. Cada época pinta sua “revolução” com suas cores, caras e cartazes.

Na busca do compartilhar, palavra base para qualquer movimento que se propõe eficaz, pois apenas através do compartilhamento de idéias e do vínculo afetivo entre as pessoas e os temas, se obtém significativos índices de envolvimento e comprometimento com a causa.

Vivemos numa época onde a internet é base de trabalho, estudo e relações, onde o domínio da máquina reside, não como as super máquinas pensadas nas ficções científicas de meados do século XX, mas sim nos micros, nets e notes que são instrumentos de trabalho e instrumentos de lazer no mesmo lugar.

Nesse contexto da web 2.0 as revoluções culturais, sociais e políticas são divulgadas, compartilhadas, tuitadas. Segundo pesquisa do Datafolha divulgada no último dia 13 de junho, 71% dos jovens brasileiros considera a internet uma arma política. Sobre a pesquisa Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, ex-presidente da república e âncora do polêmico documentário “Quebrando o tabu”, que trata da descriminalização das drogas, ele comenta que “a juventude se comunica diretamente, ela salta instituições”.

Malcolm Gladwell, no artigo, “A Revolução não será tuitada” contesta esse potencial de arma política pela fraqueza dos vínculos que a rede www faz, “o Facebook e sites semelhantes são ferramentas para a construção de redes e, em termos de estrutura e caráter, são o oposto das hierarquias. Ao contrário das hierarquias, com suas regras e procedimentos, as redes não são controladas por uma autoridade central e única. As decisões são tomadas por consenso, e os vínculos que unem as pessoas ao grupo são frouxos.”

Os movimentos se articulam para derrubar essa hipótese do vínculo frouxo e os exemplos se espalham pelo mundo, a ocupação das Praças de Espanha, a derrubada do ditador no Egito (considerada por Gladwell como pouco eficaz na rede), o churrasco da gente diferenciada, a Marcha da Maconha e a mais expressiva movimentação em amplitude, pluralismo, multiculturalismo, transtemática e intergeracional: a Marcha da Liberdade.

Nascida do enfrentamento da Marcha da Maconha, esta enfim julgada e liberada pelo Supremo Tribunal Federal no último dia 15 de junho, a Marcha da Liberdade propõe um movimento pós estruturas; pós partido, pós rancor, pós ministérios, pós instituições. Na cidade de Campinas, o manifesto da Marcha da Liberdade inicia seu “Convite à liberdade” assim: “Não somos uma organização. Não somos um partido. Não somos virtuais. Somos REAIS. Uma REDE em MOVIMENTO feita por gente de carne e osso. Organizados de forma horizontal, autônoma, livre. Temos poucas certezas. Muitos questionamentos. E uma crença: de que a Liberdade é uma obra em eterna construção. Acreditamos que a liberdade de expressão seja a base de todas as outras: de credo, de assembléia, de posições políticas, de orientação sexual, de ir e vir. De resistir. Nossa liberdade é contra a ordem enquanto a ordem for contra a liberdade. “ e termina com uma pergunta: “Com que coração você vem à marcha?”

É nesse contexto de agregar os movimentos que a marcha se propõe nova, sendo nacional e respeitando as particularidades e demandas de cada cidade onde ela acontece. Marcelo das Histórias, griô aprendiz, ator e contador de histórias, integrante do Coletivo de organização da Marcha da Liberdade Campinas afirma que “A marcha da Liberdade de Campinas é mais que um ato. Ele agregou diversos movimento e redes.” “Pensamos em ampliar a questão da corrupção e Impeachment do doutor [Hélio de Oliveira Santos, prefeito de Campinas, que teve a esposa, seis secretários ou diretores de secretarias e mais 11 empresários envolvidos num esquema de fraude de licitações]. Queremos uma conselho popular para lidar com esta crise e iniciar um processo de uma democracia mais participativa, com ampliação dos meios de controle e fiscalização popular . Uma gestão compartilhada em todas as pastas”.

Movimento político, social, cultural, de transformação e processos. Articulados via web 2.0, marcado por hag tags do twitter, #MarchadaLiberdade, pelo Facebook @Marcha da Liberdade, pelas correntes de e-mails e levada as ruas, a confecção de cartazes, a intervenções, a produção audiovisual, a construção do vínculo afetivo. Para essa turma a revolução não será apenas tuitada, mas estará no top trending.

http://youtu.be/OYUWhvytmJY


quarta-feira, 15 de junho de 2011

Defesa Civil de Campinas terá novo site com previsão do tempo diária










Por Tiago de Souza

A Defesa Civil de Campinas passará a fornecer a todas as secretarias, órgãos municipais e empresas cadastradas, a previsão climática diária e condições meteorológicas, além dos alertas disparados quando houver possibilidade de algum desastre natural. Os serviços atualmente ficam restritos apenas aos departamentos de Defesa Civil do estado de São Paulo.

“Além da possibilidade da informação circular com mais agilidade, ajudando-nos nas ações preventivas, a Administração cumpre obrigação de prestação de serviço ao cidadão, tarefa intrínseca ao poder público”, explica o diretor da Defesa Civil na Região Metropolitana de Campinas, Sidnei Furtado.

Desenvolvido com a concepção de agilizar alguns serviços anteriormente prestados apenas através do telefone 199, o site do órgão campineiro (www.campinas.sp.gov.br/defesacivil) passará a ser atualizado duas vezes ao dia e, em caso de iminência de tempestades, ventos fortes localizados ou baixa umidade do ar, todos os órgãos e empresas que realizaram cadastro anterior junto à Defesa Civil receberão os alertas necessários. A cidade de Campinas ainda contará com a previsão do tempo e temperatura para nove dias.

Segundo Furtado, a nova ferramenta possibilitará mobilização mais ágil do trabalho das entidades que trabalham com prevenção – como retirada de famílias que vivem em áreas de risco em dia de forte temporal localizado – e auxiliará o órgão nas suas ações, fornecendo informações de como proceder nesses casos que possam oferecer algum risco à população.

Novo site

O novo hot site da Defesa Civil foi colocado no ar no mês de maio desse ano, possibilitando interatividade com o órgão e fornecendo diversos serviços, como um manual de desastres – utilizado até por cidades vizinhas à RMC –, e como proceder em período de estiagem e em prevenção de casos de afogamentos.

Criador do novo site da Defesa Civil de Campinas fala sobre ferramenta

Por Tiago de Souza

“Dentro das possibilidades existentes dentro do portal da Prefeitura, buscamos fornecer ao munícipe desde informações básicas sobre a Defesa Civil até então não disponíveis – como missão e valores do órgão –, como prestar serviço à população, nossa obrigação como servidores públicos que somos”, relata o criador da ferramenta, o publicitário Thiago Wiziack, da Coordenadoria de Comunicação da Prefeitura de Campinas.

Wiziack explica a maneira que encontrou para melhorar o endereço eletrônico da Defesa Civil regional. “Nos utilizamos de mídias sociais para publicarmos folhetos educativos (o www.issu.com), sempre com o conceito de “you publish”, que tem toda a concepção sustentável – por não exigir impressão desse tipo de material que geralmente utiliza muita química – e pode atingir um número maior de pessoas. Além disso, buscamos dentro das ferramentas que temos fornecer o maior número de informações possíveis à sociedade, tendo como base o sucesso na utilização de espaços on line na ultima Operação Verão realizada”, analisa o publicitário.

Na ocasião, a Defesa Civil de Campinas utilizou-se de um banner postado na home do portal da Prefeitura da cidade que levava o internauta diretamente para o hotsite criado especialmente para a Operação Verão 2010/2011, realizada de 01 de dezembro de 2010 a 30 de abril desse ano. No espaço, informações como número de desabrigados, casas interditadas preventivamente, habitações demolidas e pontos de alagamentos, eram atualizadas diariamente – possibilitando inclusive o trabalho conjunto com rádios municipais para auxiliar o cidadão sobre as condições das vias até durante os temporais.

“Tivemos um retorno muito positivo nesse trabalho preventivo que a Prefeitura tem buscado desenvolver em relação a desastres naturais, que não geram mortes na cidade desde 2003, mesmo enfrentando nesse ultimo período de chuvas os piores índices pluviométricos dos últimos nove anos”, afirma Sidnei Furtado.

O publicitário Pedro Nicolau, responsável pelo desenvolvimento de websites esportivos no Rio de Janeiro e que atuou no departamento de publicidade da The Coca Cola Company Brasil, aprova o conteúdo disponibilizado, mas faz algumas ressalvas.

“Dentro do que se oferece atualmente por instituições públicas no Brasil, o conteúdo está mais do que satisfatório, porque cumpre as funções sociais de prestação de serviços. Claro que algumas adaptações muito mais no sentido visual poderiam ter sido feitas, mas sem conhecer a fundo toda a estrutura técnica que o portal da Prefeitura de Campinas possui, é complicado avaliar o que poderia ser alterado na questão visual”, avalia Nicolau.

Veja a entrevista.

domingo, 12 de junho de 2011

José Marques de Melo reflete sobre o jornalismo em palestra na PUC-Campinas

por Marco Antonio Erbeta

O “5º Encontro Paulista de Professores de Jornalismo e Jornada de jornalismo 2011”, que aconteceu de 26 a 28 de maio, na PUC-Campinas, contou com a presença de renomados profissionais jornalistas. No sábado, 27, José Marques de Melo (presidente da Comissão de Especialistas do MEC) realizou palestra e discutiu a jornalismo atual.


Presidente da Comissão de Especialistas do MEC, José Marques de Melo teve como tema central de sua palestra “Jornalismo em tempos de crise” e falou sobre a influência da tecnologia no jornalismo, o acesso às informações e o perfil do profissional jornalista, dentre outros assuntos.

Segundo Marques de Melo, a revolução tecnológica foi um marco para a comunicação, o que mudou significativamente as mídias e os tempos, com uma nova proposta de informação. “Vivemos na era do Jornal Digital. Os tempos mudaram, tudo mudou, e é necessário que tenhamos essa visão”, disse.

Sobre mudanças do jornalismo atual, Marques de Melo falou que na essência nada mudou no jornalismo e nos seus fundamentos, mas que houve mudança na natureza das demandas, onde os novos cidadãos reclamam a interpretação dos fatos, com um jornalismo investigativo e que exige valores agregados. Destacou também o tipo de interesse dos atuais leitores "que procuram uma aparência romanesca dos fatos e personagens” de uma matéria, diferentes dos leitores de mídias impressa, que prezam pela qualidade. “Os leitores de jornais demandam informação de qualidade e os novos leitores desejam informação diversional”, destacou.

Neste sentido, o professor refletiu sobre as dificuldades de adaptação do jornalista atual, que deve ter “talento, formação e condições de trabalho” para poder desenvolver um bom jornalismo.

Marques de Melo falou também da importância do acesso às informações das pessoas de baixa renda, mas para isso é necessário que as informações (notícias) sejam gratuitas, algo importante pra classe menos favorecida, alertando para os altos preços dos jornais.

Ao final, José Marques de Melo falou sobre sua visão do jornal hoje que “está mais estruturado para contar o que do que para explicar o porquê”, completou.

O “5º Encontro Paulista de Professores de Jornalismo e Jornada de jornalismo 2011” teve como tema “A Formação superior como elemento constituinte e legitimador do campo de Jornalismo” e contou com participação de alunos, professores da PUC-Campinas e de outras faculdades do Estado de São Paulo.



FOTOS: Marco Antonio Erbeta

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Várzea Paulista inova com projeto social “Armazém da Cidadania”

Fabiano Andreane

Como diz o ditado popular: “não basta dar o peixe, tem que ensinar a pescar”. Essa foi a filosofia que a Secretaria de Cidadania e Assistência Social de Várzea Paulista utilizou ao ampliar o atendimento às famílias em vulnerabilidade social, evitando assim restringir às políticas assistencialistas e imediatas. O serviço prestado à população se aliou à participação popular.

Muitos projetos implantados nos últimos seis anos contribuíram para a consolidação dessa mudança e, devido a essa transformação, a Secretaria iniciou 2011 com um novo nome, passando a se chamar Secretaria de Cidadania e Desenvolvimento Social.

Esta nova forma de trabalho baseia-se em políticas de Desenvolvimento Comunitário e é um incentivo para que essas famílias assistida pelos programas se tornem protagonistas de suas próprias vidas e comunidade. Segundo a secretária de Cidadania e Desenvolvimento Social Giany Póvoa é uma forma de valorizar as habilidades desenvolvidas por cada pessoa. “Estamos dando um novo papel para a Assistência Social, oferecendo ferramentas para que as pessoas possam desenvolver suas atividades de forma independente, seja para gerar sua própria renda ou definir as melhorias necessárias em seu bairro”, explica.

Um dos eixos de atuação é a Economia Solidária, que agrega o Armazém da Cidadania. As famílias assistidas pela Prefeitura recebem ‘Saberes’, moeda social usada para a troca de alimentos, obtidos por meio da participação em atividades socioeducativas e de participação popular promovidas pelo poder público, uma ação pioneira no Brasil.

As dificuldades da vida fizeram com que Ediliane Silva Dotta procurasse ajuda no projeto. Casada, trabalhava para ajudar o marido nas despesas da casa. Mas um dia a vida pregou lhe uma peça: o marido e ela ficaram desempregados e começaram a passar necessidades. Mãe de quatro filhos, ela se via desesperada ao abrir o armário e não ter nenhum alimento para colocar na mesa. “O que mais me doía era quando meus filhos pediam um leite, um pão, uma bolacha e não tinha de onde tirar”, conta .

Há mais de 2 anos ela participa da Oficina da Beleza duas vezes por semana, e consegue juntar cerca de 55 “saberes” por mês. Com a moeda social ela diz nunca mais ter passado necessidades. “É uma oportunidade única recebida deste pessoal, aqui a gente trabalha pra ganhar. Agora em casa tem tudo: leite, macarrão, arroz, feijão, tem tudo”.

Hoje, a cidade possui três Armazéns da Cidadania, que funcionam nos Centros de Assistência Social (CRAS) e são espaços semelhantes a um mercado. Neles são oferecidos todos os produtos de uma cesta básica, verduras e legumes frescos.

Em Várzea Paulista, muitas pessoas em situação de vulnerabilidade social e que tinham dificuldade de ingressar no mercado de trabalho encontraram apoio neste projeto, participando das Feiras de Trocas e das Cooperativas, que já são quatro no município.

Todo este trabalho consiste em um novo sistema econômico regido pelos valores de autogestão, democracia, cooperação, respeito à natureza, promoção da dignidade e valorização do trabalho humano, sendo uma estratégia de enfrentamento da exclusão social sustentada em formas coletivas de geração de trabalho e renda.

domingo, 5 de junho de 2011

Saúde de Piracicaba pede socorro

Reportagem de Nikolas Capp

Seis horas da manhã, José Antônio chega ao pronto-socorro da Vila Cristina. A mulher dele, Maria Aparecida, está com um inchaço na boca e sente muita dor. Em meia hora ela passa por uma triagem e depois aguarda o atendimento.

Seis horas depois, José Antônio continua no mesmo pronto-socorro sem que ninguém tenha dado um diagnóstico para sua mulher. "A gente chega cedo e tem que passar o dia aqui para na hora da consuta o médico passar um remédio sem nem olhar direito o paciente. Perdemos o dia inteiro por nada", explica seu José, enquanto fuma um cigarro sentado em um banco do outro lado da rua do PS.

José pediu para que seu sobrenome não fosse revelado, mas a sua situação retrata a de muitas outras pessoas que procuram as Unidades de Pronto Atendimento de Piracicaba. No total, são quatro unidades na cidade e em todas existem reclamações desse tipo.

Percorri os quatro locais e a conclusão é de que o "pronto atendimento" fica somente no nome do serviço, responsável, pelo menos na teoria, por receber os casos mais graves. Durante cinco horas, poucas pessoas obtiveram êxito em ser atendidas e o número de pacientes só aumentou. Cerca de 40 pessoas aguardavam atendimento na unidade da Vila Cristina, enquanto dois clínicos gerais e um pediatra se desdobravam para dar conta da demanda. A situação na sala interna também era a mesma, já que as enfermeiras chamavam cinco pessoas por vez para aguardar na parte de dentro, mas poucos saíam.

A paciente Sabrina Rodrigues conhece bastante como funciona o local. Ela chegou por volta das 9h30 ao pronto-socorro e repetia o mesmo nos últimos quatro dias para tomar soro, por conta da dengue que deixava seu corpo fraco e dolorido. Como não tem com quem deixar o filho de 4 anos, leva o menino junto. "Ele não quer ficar parado e eu estou com dor, não consigo ficar andando atrás dele. É o quarto dia que venho tomar soro e a fila é sempre essa". Foram três horas de espera até Sabrina ir para a triagem e ser atendida.

Outras UPAs

A situação encontrada na Vila Cristina se repete pelas outras unidades, que ficam no Piracicamirim, Vila Sônia e Vila Rezende. O primeiro é o mais próximo do Centro. Em plena quinta-feira, eram cerca de 50 pessoas aguardando atendimento para um clínico geral e um pediatra.

Ederson Morais estava com um inchaço na virilha e não conseguia andar. "Cheguei aqui nove horas da manhã, são uma hora da tarde e ninguém me chamou ainda. Ninguém é chamado, não sou só eu', comenta o caldeireiro, que estava perdendo o dia de serviço e por isso desistiu do atendimento. "Vou embora, não adianta ficar aqui parado, vou procurar outro lugar para ser atendido", se resigna.

No pronto atendimento da Vila Rezende as pessoas procuravam sombras do lado de fora do local, já que o sol castigava a espera. Silvia Araujo acompanha a mesma cena todos os dias. A assistente de limpeza trabalha em uma farmácia que fica em frente ao PS. "Todos os dias fica lotado e as pessoas ficam aí esperando", conta Silvia.

Por acompanhar tão de perto a situação, ela resolveu pagar um seguro de saúde, mas não escapou da falta de atendimento. "Tive que levar minha neta que estava com bronquite há alguns meses. Se eu não brigo com a enfermeira passaríamos a noite toda lá sem ninguém nem olhar para a gente".

Falta Médico

O coro entoado pelos pacientes é engrossado pelos próprios médicos que atuam no serviço. A demora no atendimento e a pouca atenção dada a cada doente é constatada por aqueles que não conseguem dar conta de toda a demanda.

"Não tem como dar conta. Somos poucos para tanta gente e os médicos não querem vir trabalhar aqui. O salário pago é muito baixo e não atrai os interessados", explica Ademir Alamino Lacalle Junior, plantonista da UPA.

Segundo o médico, como faltam funcionários, os plantonistas precisam trabalhar acima da carga de trabalho normal, o que prejudica ainda mais o atendimento. "Os médicos estão cansados e têm que atender cerca de 80 pacientes por dia, quando normalmente atenderíamos a metade disso. Não existe possibilidade de atender a todos e dar uma qualidade na consulta", explica.

A situação é comprovada pelo último concurso aberto pela prefeitura para tentar sanar o problema. Não existiram inscrições suficientes para ocupar as 13 vagas abertas.

"Com o salário que estão dispostos a pagar dificilmente conseguirão completar o quadro de funcionários. Nenhum médico está disposto a trabalhar praticamente de graça", afirma Junior.

Os problemas não param por aí. Segundo João Auguto Scarazatti, outro médico plantonista, a falta de profissionais não é a única questão, mas também há falta de vagas para transferência de pacientes graves e funcionários fazendo funções que não competem aos cargos para que foram contratados.

"As vezes temos que transferir um paciente e não conseguimos. Ele tem que ficar lá e isso atrasa também o atendimento. Sem contar que alguns médicos contratatos para fazer plantão, que ganham mais, fazem outras funções. Não tem como dar conta da demanda desse jeito", afirma Scarazzati.

O outro lado

A Prefeitura de Piracicaba, por meio da assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde, diz que as UPAs são para atendimento de urgência e demanda espontânea. Quando existem casos de emêrgencia, os outros não tão graves devem esperar por atendimento, ou procurar outros serviços mais apropriados como as UBSs (Unidades Básica de Saúde) e PSFs (Programas de Saúde da Família).

Em relação às reclamações dos médicos, a prefeitura disse ter contratado plantonistas adicionais para cobrir férias e afastamentos. Isso fez com que aumentasse o número para quatro médicos nos horários de pico. Os salários, segundo a secretaria, foram atualizados no ano passado, com as reivindicações dos médicos. Atualmente, um plantonista recebe R$ 804,73 para oito plantões e, acima disso, o valor passa para R$ 824,73 durante a semana. Nos fins de semana o valor sobre para R$ 840,42 e R$ 860,42.

Quanto às solicitações de vagas hospitalares, as mesmas são reguladas pela Central de Vagas da Secretaria de Saúde. Essas vagas hospitalares provêm de dois hospitais: Fornecedores de Cana e Santa Casa de Misericórdia de Piracicaba, e sempre são encontrados leitos mediante a solicitação médica, informa a nota.