sexta-feira, 3 de junho de 2011

Esporte: vantajoso ou prejudicial?

Esporte é bom, mas tem limite. É o que explica Vladimir Modolo, educador físico e pesquisador do Centro de Estudos em Psicobiologia e exercício da Unifesp. Segundo ele, atletas viciados em exercícios físicos apresentam maiores índices de depressão, ansiedade, agressividade, auto-estima baixa, além de ter uma qualidade de vida pior do que as pessoas que praticam esporte moderadamente. “Praticar atividade física em excesso pode causar danos no sistema imunológico, alterações hormonais e danos secundários, como transtornos de imagem corporal, distúrbios alimentares e distúrbios do sono”, afirma.

É considerado um vício, quando a pessoa precisa praticar atividade física cada vez com mais intensidade para obter a mesma satisfação. Além disso, o atleta passa pela abstinência quando o esporte não faz parte da rotina, o que traz sintomas negativos como depressão e ansiedade. Este é o caso de Renan Flud, que pratica jiu-jitsu e musculação há cinco anos, em média cinco vezes por semana e quatro horas por dia. “Quando não pratico esporte, me sinto mal e ansioso pelo próximo treino. Fico pouco a vontade comigo mesmo”, diz o jornalista. Por outro lado, quando o esporte faz parte da rotina, ele assume sentir-se bem melhor.

A vida de Alexander Reis não é diferente. O arquiteto de sistemas concilia a via profissional com as três horas diárias de academia, com exceção apenas do domingo. Alexander diz não ficar ansioso, mas considera o esporte uma diversão e o momento de lazer predileto. “Falto às aulas da academia se for para fazer outras coisas, mas só se for algo que eu esteja muito afim. Na maioria das vezes a academia fica em primeiro lugar. Me divirto mais em academia que em um barzinho na maioria das vezes”, diz.

Segundo Vladimir Modolo, o excesso de horas dedicadas aos treinos é o principal responsável por este vício, já que eleva os níveis de endorfinas cronicamente, o que torna o atleta dependente desta substância. “O exercício físico e o vício se transformam em uma bola de neve: cada vez mais exercício, cada vez mais danos ao organismo, cada vez mais vício e não acaba mais”, explica.

O educador físico e professor de pilates, Thiago Medeiros Rodriguez, acrescenta: “Existem ainda as causas psicológicas, que se resumem à uma preocupação exacerbada com a imagem corporal”, diz. Segundo ele, há casos em que o vício leva os homens a um transtorno relacionado com o ganho de massa muscular e ao uso indiscriminado de anabolizantes. Já em mulheres, as consequências acabam sendo transtornos como a bulimia e a anorexia.

Vladimir Modolo conta que assim como todo vício, é difícil o atleta assumir esta dependência pelo esporte. Em alguns casos, existe a negação, e quem percebe a prática excessiva são os familiares e amigos. Modolo ainda afirma que em casos mais graves, o atleta percebe que está viciado, mas não tem controle para diminuir a quantidade de exercícios praticada.

Mas isso dificilmente acontece com atletas profissionais. É o que afirma Thiago Medeiros. “Os atletas profissionais têm o esporte como meio de vida, por isso encaram a prática do esporte como trabalho, portanto existem um auxilio psicológico. Já os atletas amadores não contam com tantos recursos e nem uma equipe multidisciplinar para cuidar de todos os aspectos relacionados a prática esportivas, por isso são mais vulneráveis a este tipo de transtorno”, explica.

De acordo com o educador físico, a pessoa pode ser considerada viciada quando “pratica exercícios físicos de maneira esteriotipada uma ou mais vezes ao dia, dá prioridade aos exercícios em detrimento de outras atividades como o contato familiar ou questões de trabalho e tem sintomas de abstinência como irritabilidade, depressão e ansiedade, quando interrompida a prática de exercícios”.

Renan Flud diz não trocar a namorada e o trabalho pela academia, mas por outro lado afirma não conseguir imaginar a vida sem o esporte e não conseguir achar outra atividade para substituir a prática de exercícios físicos sem que lhe faça falta.

Por outro lado, a estudante de educação física, Helena Perdigueiro, pratica esportes seis vezes por semana, por aproximadamente três horas por dia, mas admite não ficar nervosa ou ansiosa com a falta da atividade física. Para ela, a academia é vista apenas como uma forma de levar a vida com mais qualidade de vida. “Me sinto bem, com energia e vontade de fazer as coisas. Me sinto mais disposta”, diz.

Segundo ela, o esporte não é uma prioridade. Caso apareça um evento, deixa de ir à academia. “Se não tiver como marcar um cinema, por exemplo, em outro horário que não seja o mesmo que eu costumo ir à academia, acabo deixando de ir na aula para realizar a outra atividade. Tudo é uma questão de o que quero fazer no momento. Não tenho prioridades em relação a isso”, afirma.

Helena pratica musculação, tecido acrobático, yoga, trilhas em esteira, entre outras atividades, como aulas de abdômen e jump. Um ótimo exemplo de saúde para os sedentários e, por que não, aos viciados em esporte que fazem da atividade física uma grande vilã ao invés de usá-la apenas como uma companheira para uma vida melhor?

Esporte é ótimo! Mas conheça os limites do seu corpo e pratique com moderação!

Thaís Maruoka.

Nenhum comentário:

Postar um comentário