sexta-feira, 3 de junho de 2011

Kelly Slater, o pelé das águas

Por Thaís Maruoka

Se tivesse escolhido o basquete, teria sido o Michael Jordan, se fosse apaixonado pela Formula 1, o Airton Senna. Se as quadras de tênis fossem seu forte, com certeza seria conhecido como Federer. Ou se o campo de futebol fosse sua casa, Pelé seria seu nome. Mas ele preferiu o mar. E por isso é conhecido como Kelly Slater.

A facilidade de se conectar com o oceano fez com que Kelly Slater se destacasse no meio de tantos outros surfistas e se profissionalizasse não apenas em ondas grandes, aéreos ou tubos, mas em todas elas de uma só vez. Como uma mãe com três filhos, ele consegue dar uma atenção especial e se dedicar a cada uma dessas virtudes do surf como se fosse única.

Foi o mais novo e o mais velho a colocar a mão na taça mais cobiçada do surf. Em 1992 Kelly Slater ganhou o primeiro campeonato mundial, tornando-se o mais jovem surfista a conseguir tal feito. Já em 2010, 18 anos depois, ele novamente, Kelly Slater, alcançou o décimo titulo, ganhou as mais diversas etapas nas mais diversas condições e contra os mais diversos oponentes

Kelly Slater ganhou a primeira prancha aos cinco anos de idade. E o fato de ela ser de isopor e bodyboard (aquelas que se surfa deitado), não impediu o astro do surfe de fazer batidas na crista da onda e manobras como 360º. Aos oito anos de idade ele participou do primeiro campeonato. E ganhou. Terminou a frente de meninos mais velhos e que tinham pranchas "de verdade".

Este pode ter sido o primeiro incentivo que o levou a ter, aos 39 anos, uma forma física invejável, dez títulos mundiais e três Prêmios Laureus Worls Sports (O Oscar do Esporte), conquistados em 2007, 2009 e o ultimo neste ano.

Admirado no mundo todo graças a capacidade de se manter no topo por tanto tempo, Kelly pôde contar com outros incentivadores, como o pai e o irmão surfistas, alem da mãe, que apaixonada pelo sol deixava os filhos matarem aula para curtir a praia com a família durante a semana. Está explicando de onde veio a paixão pelo mar. Sentimento que por sinal já causou prejuízos a saúde, como as sérias queimaduras adquiridas após ficar sete horas seguidas surfando na Austrália.

E o sucesso não fica apenas dentro d água. Nascido e crescido na Florida, Kelly Slater já conquistou o coração de loiras como Pamela Anderson e Gisele Bündchen, mas de morenas também, como Kalani Miller, a surfista de traços asiáticos, e Bree Pontorno, com quem ficou noivo aos 21 anos.

Não é bom entrar em detalhes dos momentos ao lado de Pamela Anderson, pois foram frustrantes. Não na vida pessoal, mas nos sets de gravação do seriado BayWatch (SOS Malibu). Foi nele que Kelly Slater descobriu que atuar não é seu forte, mas também para que mais um dom? De qualquer forma não daria certo conciliar o que ele mais amava com o que acabou se tornando motivo de zombaria, até porque já fazia quase três anos que Slater havia unido o útil ao agradável e se tornado um surfista profissional.

Talvez as horas solitárias que Kelly Slater passava nas ondas, quando fugia para não ouvir as brigas dos pais, tenham tornado-o um homem pensativo e introspectivo. Neste mundo de competições em alto nível, ser introspectivo talvez seja um privilégio.

Moto e motorista estão para a estrada, assim como surfista e a prancha estão para o mar. E o fato de não precisar de mais ninguém, nem do próprio adversário, como no caso do tênis, para definir o resultado final, é uma qualidade do esporte que satisfaz Slater.

Influenciado pelo pai, que tocava violão, e pela mãe que tocava banjo e cantava, Kelly Slater aprendeu alguns acordes e passou a tocar, ou pelo menos tentar, ao lado de amigos como Jack Johnson. Mas, como era pior que eles em fazer som, passou a cantar. E foi como vocalista que montou a banda The Surfers, com o primeiro disco gravado em 1996, passando de "astro do surfe" para o "astro do rock". Os quinze minutos de fama no palco renderam amizades como a de Eddie Vedder, vocalista do Pearl Jam.

Mas a vida de cantor durou pouco. Quatro anos foram suficientes para Slater perceber que tinha que escolher entre o surfe e a música. Em 2000, o show de despedida no Japão não foi tão bom quanto esperava. Talvez o conceito de “mosh” (saltar do palco sobre a multidão) no Oriente, não seja tão comum, porque foi lá que Slater teve a primeira e última experiência de pular e não ser recebido pelo público! Mico do rei do Surf. Ou de quem não o segurou?

Sexo e drogas caminham junto com rock and roll, mas não para ele. Depois da convivência com o pai alcoólatra, que não rendeu bons momentos, Slater assume ter, “experimentado” maconha mais de uma vez, mas ao contrário da imagem estereotipada de um surfista, a maconha e as drogas em geral não fazem parte do dia a dia dele.

O que também não acompanha o astro do surfe é o interesse por carros ou mansões. Ao contrário disso, o atleta prefere gastar em diversão e comprando terrenos em locais que já surfou para deixar como herança para os filhos.

E em falar em heranças... a morte é algo que o preocupa. E era de se esperar. Afinal, surfar a poucos metros acima de um recife já lhe rendeu uma pancada na cabeça que o desacordou e quase fez o surfista ver a luz no fim do túnel.

Mas todos tivemos sorte de ter sido apenas um susto. Infelizmente não podemos dizer o mesmo de seu principal adversário, o havaiano Andy Irons. O surfista faleceu em 2010 (possivelmente de dengue hemorrágica) e arrancou lágrimas de Slater em fevereiro deste ano, quando dedicou o troféu de melhor surfista do ano ao tricampeão mundial. Não apenas pelo seu talento prodigioso e desenvoltura nas ondas, mas também pelo forte sentimento de humanidade que sempre o acompanhou, Kelly Slater é um gênio do esporte em geral e um referencial de generosidade e humildade. Um triunfo.





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