sábado, 4 de junho de 2011

Mercado de trabalho abre as portas para a maturidade

Por Du Paulino



“Será que está faltando alguma coisa em mim, que eu não tenho pra dar, por isso eu estou desempregada?” A frase traduz a angústia e o desespero da pedagoga Cristiane Juliano Pereira, de 47 anos. Sem emprego formal desde 2002, Cristiane tem a história parecida com a de muitas brasileiras na sua faixa etária. Casou-se muito cedo, teve filhos e optou por deixar o mercado de trabalho para cuidar da casa e da família. O próprio curso de pedagogia, ela só conseguiu fazer depois de os filhos terem crescido.


Ter mais de 40 anos pode ser uma barreira no mercado de trabalho? Nem sempre, garantem os especialistas. Segundo eles, a partir dessa faixa etária o trabalhador reúne um conjunto de competências pessoais que podem diferenciá-lo em relação aos mais jovens. Ajudar mulheres com mais de 45 anos a reconhecer em si tais competências e, com isso, se sentirem mais seguras para buscar uma posição no mercado de trabalho é o objetivo do “Programa de Valorização Profissional”, uma parceria entre o SESC Campinas e a Faculdade de Psicologia da PUC-Campinas. Pelo programa, alunos do curso realizam palestras e dinâmicas nas quais as participantes desempenham tarefas que ajudam no autoconhecimento. “A mulher que passou a maior parte da vida cuidando da casa, cozinhando e administrando o lar, por exemplo, tem competências administrativas e de organização que são muito valorizadas pelo mercado de trabalho”, acredita Rhodys Sigrist, que é um dos alunos da Faculdade de Psicologia participante do programa.


Sigrist conta que, pela troca de ideias entre os alunos de psicologia e as 30 mulheres participantes do programa, foi possível perceber que há o preconceito de que uma pessoa quando está envelhecendo ela vai perdendo capacidades, ela não consiga se inserir no mercado de trabalho. “Algumas já saem para procurar empregam acreditando que o mercado de trabalho não aceita pessoas maduras”, observa. A socióloga Vicentina Barroso, de 53 anos, é uma das que acredita nessa teoria. “No Brasil todos falam que tem lugar para as pessoas mais velhas, mas na realidade, não tem esse lugar. Porque você manda currículo, eles olham a sua data de nascimento e você já é excluída.”





No entanto, dados da Associação Comercial e Industrial de Campinas (ACIC) mostram que a faixa etária a partir dos 45 anos foi a que, proporcionalmente, mais se beneficiou com a abertura de novas vagas no setor de serviços, que é a que mais cresce quando se fala em contratação de mão de obra. Nos últimos três anos, o seu crescimento médio foi de 8,5% ao ano. Em 2010, em Campinas, foram contratados 14.500 trabalhadores na área de Serviços, o que representa 8,6% dos 168.500 empregados que compõem o total do segmento. Esses números, de acordo com o levantamento dos alunos da Faculdade de Psicologia junto à ACIC, representam mais chances de empregabilidade para as mulheres maduras. “Essa valorização é para mostrar que o mercado de trabalho está aberto a essa população e que elas possuem características que, por exemplo, a área de serviços, que é uma das áreas que mais empregam na Região Metropolitana de Campinas, precisa”, argumenta Sigrist.

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